Se pudesse pagar por eles, o brasileiro certamente elegeria um crossover (ix35 ou CR-V, por exemplo) como carro mais vendido do país em vez do Gol ou do Uno, os líderes nas vendas. Como nos Estados Unidos o consumidor pode realizar seu sonho graças a renda maior e aos preços mais condizentes, o tipo de veículo mais popular por lá é a picape grande ou, na sua língua, “full-size”.
Para ter uma ideia, as picapes respondem por mais de 10% do mercado e o modelo mais vendido do país é a Série F, da Ford, que reúne uma infinidade de versões. A Silverado, da Chevrolet, está em 4º lugar, e a RAM, numa respeitosa 8ª colocação. Dessas, apenas a picape da Chrysler ainda é vendida no Brasil – a Ford deixou de fabricar a F-250 e a GM há muitos anos desistiu de trazer a Silverado para cá.
Mas as coisas mudaram para a RAM. Depois que a montadora americana foi adquirida pela Fiat, a estratégia foi alterada e a picape foi alçada à condição de marca, deixando a Dodge para os modelos mais urbanos.
É essa “RAM” que acaba de voltar ao Brasil. Ainda no modelo 2500, intermediário, e com o acabamento topo de linha “Laramie”, a picape chega com a missão de incomodar os fãs de modelos confortáveis, equipados e espaçosos. Ou seja, ela quer incomodar as picapes médias que ganharam versões com câmbio automático e uma série de itens advindos de sedãs de luxo.
A RAM, no entanto, não abre mão de ser essencialmente um pequeno caminhão: “é para picapeiros tradicionais”, explica Emilio Paganoni, supervisor de produtos da Chrysler. Ou seja, a marca não tem ilusão de atrair novos fãs. Em vez disso, o objetivo é buscar o empresário do campo que privilegia a robustez, mas que não abre mão de equipamentos modernos como GPS, ar-condicionado de duas zonas e sensor de estacionamento.
Andar de cima
Dirigir uma picape grande é uma experiência um pouco diferente de um modelo de médio porte. A altura, por exemplo, é bem maior. O capô fica na altura do pescoço e entrar na cabine exige um certo esforço para escalá-la. Já na posição do motorista, o que espanta é o espaço interno. Bem mais larga que um automóvel, ela leva até seis pessoas – três na frente graças a um banco rebatível.
Se a disposição de instrumentos é parecida com a de um sedã, a alavanca do câmbio na coluna de direção lembra a de carros antigos. A fileira traseira é digna de uma limusine e foi um dos pontos em que a Chrysler investiu na nova geração, com ganho de quase 10 cm de espaço para as pernas.
De fato, quase todos os itens mais famosos hoje nos modelos modernos estão na RAM: tela multimídia com GPS e compatibilidades com smartphones e outros gadgets, comandos satélites no volante, sistema de som Alpine 7.1 e acabamento em couro com direito a revestimento até no painel. Mas é nos itens exclusivos que a picape americana se diferencia.
Para mostrar que tem vocação para o trabalho, a RAM é preparada para levar reboques com segurança. Uma conexão elétrica na traseira permite que o sistema de luzes de freio funcione em conjunto com o veículo e, dependendo do equipamento, até mesmo aumentar a força de frenagem. Se carregada, a picape também oferece recursos para tornar sua direção mais fácil. Exemplo: com o botão Tow/Haul a relação de marchas muda para aproveitar melhor o torque. Já outro botão, o “Tire Light Load”, avisa se os pneus precisam ser recalibrados por causa do peso.
Sensível ao toque
Com tantos mimos, a RAM é um veículo divertido e fácil de dirigir. A transmissão automática de seis marchas faz bem seu trabalho, a direção, leve, esterça acima da média e faz a gigante picape dar um giro num espaço muito pequeno. Já o motor Cummins, um turbodiesel com 6.7 litros e 310 cv, entrega apenas o necessário. Apesar dos quase 85 kgfm de torque, o motor precisa carregar 3,3 toneladas vazia e 5,6 toneladas se acoplada a um engate e com a caçamba cheia.
Para quem esperava uma picape desajeitada e com suspensão macia demais, a RAM surpreende. Seu rodar é equilibrado e firme, mas qualquer abuso do motorista – um risco e tanto num modelo desse porte – é corrigido com prontidão pelo controle de estabilidade. Sem eles, a picape, de tração traseira, seria bem mais difícil de guiar. É sempre bom lembrar que, em razão do peso elevado, a picape só pode ser dirigida por motoristas habilitados na classe C.
Longe das capitais
A Chrysler não é boba. A marca americana sabe que o segmento de picapes vive uma situação inversa a de outras categorias. Nele, as versões mais vendidas são as mais caras. Graças a essa distorção, os modelos de médio porte como a Hilux, a Amarok e a nova S10 beiram os R$ 140 mil com câmbio automático e todos os itens possíveis. Não é à toa que a nova RAM custe R$ 149.900, valor que, na visão dela, deverá causar confusão na cabeça de fazendeiros bem sucedidos do interior do país.